Encontro Nacional de Computação dos Institutos Federais
O 4º Encontro Nacional de Computação dos Institutos Federais (ENCompIF) será realizado em conjunto com o XXXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Computação em São Paulo. O ENCompIF tem por objetivo reunir professores e alunos de ensino médio dos Institutos Federais e outras instituições que ofereçam cursos técnicos em informática
O evento tem recebido um grande número de artigos em todas as suas edições e tem sido uma excelente oportunidade para a troca de experiências entre os participantes e um estímulo a integração e estabelecimento de parcerias entre professores e alunos e diferentes Institutos Federais e outras instituições. O público participante do evento foi de aproximadamente 200 pessoas, entre palestrantes e ouvintes, em cada edição do evento.
Mariano Pimentel (UNIRIO), Marcelo Fornazin (UFF)
Nessa palestra, discutiremos os motivos, os procedimentos e os fundamentos epistemológicos-metodológicos para se fazer pesquisa qualitativa em computação.
Em pesquisas quantitativas, coletamos dados numéricos de um determinado fenômeno a fim de medi-lo objetivamente. Tais dados compreendem, por exemplo, o intervalo de tempo para caracterizar a performance, a quantidade de acertos e erros para caracterizar a eficácia, o custo e a quantidade de recurso (dinheiro, pessoas, horas) para caracterizar o esforço, medidas sobre o tamanho (linhas de código, pontos de função) para caracterizar o sistema computacional, dentre outras medidas. A medição objetiva de um fenômeno filia-se à tradição do pensamento positivista, o qual tem origem no renascentismo e foi fundamental para o desenvolvimento da sociedade moderna. A prática de medir objetivamente a realidade baseia-se em métodos das ciências exatas, sendo muito comum na computação e na engenharia (incluindo a engenharia de software) e necessária para as pesquisas objetivas voltadas para o desenvolvimento de uma técnica.
Contudo, medições objetivas de uma realidade exterior, embora tenham tido grande êxito na produção do conhecimento e no desenvolvimento de técnicas, podem ser problemáticas quando endereçamos questões que envolvem tecnologia, pessoas e organizações. Diferente de matérias inanimadas, componentes químicos e material biológico, as pessoas muitas vezes não reagem da mesma maneira após a realização de um experimento científico; ou seja, elas aprendem com o experimento e mudam seus comportamentos. Além disso, as pessoas e sistemas de informação não podem ser facilmente separadas do seu contexto de vida e uso para realização de pesquisa em laboratório. Desse modo, as metodologias qualitativas podem ser mais eficazes no sentido de se produzir conhecimento relevante a partir da investigação de Sistemas de Informação inseridos nas organizações e na sociedade. Assim podemos interrogar o que os usuários acham do sistema experienciado, como aquele sistema computacional modifica as práticas dos atores e as relações entre eles, que fenômenos emergem com o uso do sistema, o que precisa melhorar, dentre outros aspectos cuja complexidade não pode ser reduzida a um número.
A pesquisa qualitativa, embora também possa ser realizada numa perspectiva positivista, também pode ser empregada com base em outros paradigmas, como, por exemplo, o interpretativo e o sociotécnico. Nesses casos, para compreendermos os sistemas computacionais como artefatos sociotécnicos (e não apenas técnicos), usados por pessoas num dado contexto e numa dada cultura, precisamos conversar com os usuários (livremente ou por meio de entrevista ou grupo focal), realizar observação direta das pessoas usando o sistema computacional em suas atividades cotidianas reais e interagir com os usuários para juntos compreender o artefato sociotécnico. Torna-se necessário interpretar (em vez de medir) os discursos produzidos pelos usuários e suas ações praticadas (registradas em anotações, vídeo ou log do uso do sistema). A pesquisa deve ser concebida e realizada a partir de abordagens epistemológicas-metodológicas de perspectiva subjetiva.
Algumas abordagens, como Estudo de Caso Interpretativo, Pesquisa-Ação, Design Science Research, Teoria Fundamentada em Dados (Grounded Theory) e Teoria Ator-Rede, possibilitam investigações voltadas à subjetividade, endereçando os sistemas de informação em seu contexto de uso. Além disso, essas abordagens possuem critérios próprios para aferição de seu rigor e relevância, tais como autenticidade, plausibilidade e reflexividade. O mais importante, ao se fazer pesquisa qualitativa, é o pesquisador saber se posicionar e defender suas escolhas para a sua prática de pesquisa.
Coordenação Geral
Carlos Roberto de Oliveira Junior (IFRJ)
Coordenação do Comitê de Programa
Marcelo Rafael Borth (IFPR)
Coordenação Local
Takato Kurihara (Mackenzie)